Como Interpretar o Modesto Panorama do Atletismo Local ( e como melhorar os resultados do nosso atletismo)

1. Bom, acerca do atletismo em Alcobaça há que dizer que o panorama está muito morno, as iniciativas têm sido poucas, os atletas poucos, dispersos e desmotivados da competição, salvo algumas raras excepções. Há uma série de "gurus" da actividade física livre conotada com o atletismo, ou seja, líderes de opinião, à volta dos quais orbitam uma série de atletas da manutenção, e fazem eles muito bem, só que o resultado para Alcobaça, em termos formais é ter alguns cidadãos com melhor forma física, não com resultados desportivos que possam ombrear com outros de todo o Portugal, pois a estes não lhes interessa. Está, portanto, a faltar um grupo coeso de atletas e de elementos motivados, responsáveis e solidários para à sua volta congregar jovens e menos jovens em número suficiente para dar corpo a um movimento desportivo com algum estofo, capacidade competitiva, representatividade e importância social com base no mérito.

2. A implantação de modalidades com boa captação em Alcobaça, como o futebol, a natação, o ténis, o hóquei feminino e o andebol, que realizam um bom trabalho, torna um pouco mais difícil o arranque de uma modalidade menos implantada na cidade como é o atletismo, pois os jovens estão já orientados para essas modalidades e mesmo as novas adesões tendem a escolher esses clubes e modalidades com mais provas dadas, onde já estão os amigos e para as quais existem recintos cobertos, treinadores, equipamentos, logística, carrinhas para o transporte, apoios públicos e até privados - mérito, como é evidente, das colectividades que foram construindo essas estruturas e reunindo esses apoios ao longo de vários anos.

3. No caso do atletismo aconteceram também algumas melhorias, ao ter-se obtido a pista sintética (não apetrechada) do estádio municipal de Alcobaça e também algum material - colchão, fasquia, postes e barreiras - raramente utilizado e equivocamente gerido por entidades relativamente alheias ao atletismo.

4. O Ginásio Clube de Alcobaça - que se apropriou de todo o estádio para desenvolver o seu futebol, sem se comprometer a desenvolver o atletismo, desistiu da modalidade há cinco anos por simples falta de (boa) vontade dos seus dirigentes actuais, pois têm-lhe sido feitas propostas de desenvolvimento do atletismo, sempre recusadas com argumentação fácil e superficial . Além disso interrompeu o trabalho e a dinâmica de trabalho desenvolvidas ao longo de oito anos nos quais o atletismo estava a dar alguns sinais de vida, com uma dimensão que chegou aos 38 atletas federados na época de 2000 e bons resultados a nível distrital, num esforço que estava a ser feito de recuperar ou conquistar os bons atletas de Alcobaça que estavam a competir por outros clubes.

5. Voltando ao presente, considero que a gestão do material de atletismo e da própria pista têm sido, equivocamente, atribuídos pela Câmara Municipal ao Ginásio Clube de Alcobaça, deixando atletas de outros clubes do concelho, esses sim com atletismo, à mercê de um clube que não tem atletismo há cinco anos e ao qual têm de pedir licença sempre que querem utilizar o material de atletismo, além de que esse clube ou pessoas, como é evidente, não querem saber do atletismo para nada, caso contrário acolheriam o atletismo como sua modalidade, com poucos ou muitos atletas, com ou sem sucesso imediato. Para mais, é revoltante saber que, entre os agentes e dirigentes do atletismo distrital, o Ginásio de Alcobaça era e ainda é um clube considerado e respeitado, graças à dedicação de vários atletas e dos elementos que agora vão treinar à pista e que, ironia do destino, têm de pedir a utilização das barreiras ou de um colchão de salto ao mesmo dirigente que lhes "deu com os pés", senão não podem ter essa barreira ou esse colchão de salto. Na maior parte das vezes não pedem nada. E assim andamos nós...

6. O que fazemos, então? O que é um facto é que os clubes do concelho com atletismo federado na Federação Portuguesa de Atletismo, nos últimos anos e com "direitos morais", que não legais, sobre a pista de Alcobaça e o material existente são o Ginásio VO2, de Pataias, o Centro Recreativo Popular de Ribafria, da Benedita e a Casa do Benfica em Alcobaça, este talvez mais vocacionado por estar sedeado na cidade de Alcobaça. É desejável que quem tem poderes nesta área, a Câmara Municipal, nomeadamente o vereador do pelouro do Desporto, José Vinagre, com o acordo de todo o executivo, actue no sentido de dar pleno direito aos clubes de atletismo do concelho sobre a pista de atletismo municipal e respectivo material, estabelecendo com eles um protocolo que lhes conceda melhores condições de acesso ao estádio municipal - para que se estabeleça uma situação normal e se acabe de vez com a situação de normal anormalidade.

7. E qual é a situação de normal anormalidade? Aquela, que se arrasta há anos e já existia antes da pista de tartan, de uma entidade alheia ao atletismo a tutelar a seu belo prazer, ainda que sem erros grosseiros (que não é isso que está em causa), o acesso das entidades oficialmente inscritas e activas no atletismo, o que constitui uma aberração e um rebaixamento da modalidade e dos seus praticantes, que não podemos aceitar. O arrastar desta situação tem levado ao esvaziamento progressivo das fileiras de atletas assim como do "património afectivo" dos resistentes, da memória e credibididade do atletismo local, minando o desenvolvimento do associativismo de Alcobaça em torno dos ideais desportivos específicos do atletismo, porventura em proveito de outro tipo de ideais desportivos das outras modalidades, os quais respeitamos mas que não são os nossos.